O fanzine QI, um dos mais longevos fanzines em atividade –
ao lado do Tchê, de Denilson Reis – segue imprescindível aos fãs de quadrinhos.
Estruturado no estudo dos quadrinhos, especialmente os
clássicos da era de ouro e prata, também publica HQs curtas, cartuns e
ilustrações, mas o destaque vai mesmo para a parte jornalística.
A página 3 sempre nos traz a história e biografia de um
personagem dos quadrinhos, esmiuçando detalhes sobre sua trajetória editorial.
Nesta edição, “O Morcego”, criação de Wilson Fernandes para a editora Roval, em
1972. Herói nitidamente calcado nos clássicos Batman (Bob Kane) e Fantasma (Lee
Falk), teve apenas uma edição publicada, tornando esta revista uma
preciosidade, um verdadeiro tesouro dos quadrinhos nacionais.
A seguir curiosidades sobre Mickey, de Walt Disney (ou
melhor, Floyd Gottfredson). Você sabe quando houve a mudança no desenho dos
olhos do personagem, precisamente? Eu também não sabia. Mais um mistério desvendado
pelo arqueólogo Edgard. Também é mostrada uma censura nas histórias de Steve
Canyon, de Milton Caniff.
Ainda com texto do editor, “Mistura de Estilos” falando
sobre estas combinações inusitadas, já vistas em HQs Disney e até mesmo em uma
aventura de Zé Carioca de Renato Canini, o maior de todos os Zés Cariocas em minha opinião e de
muitos. Quando o desenho acadêmico encontra o cartunesco, cita também a
participação de Rodolfo Zalla em uma situação de mistura de estilos de seu “Zorro”.
Lio Guerra Bocorny escreve sobre a revista de “Mazzaropi”.
Hoje praticamente esquecido, Amacio Mazzaropi teve papel importantíssimo na
cultura brasileira, apresentando o ‘caipira’ típico das regiões Sudeste e
Centro-Oeste. Brasilidade perdida nos dias de hoje, recuperar a memória
nacional é outro papel relevante prestado por QI e seus colaboradores.
“A Estranha”, por E. Figueiredo, é uma crônica sobre um dos
males do século, que é a impessoalidade e a solidão. Apesar de não falar
diretamente sobre HQ, merece reflexão por sua pertinência.
“Fórum”, a seção de cartas e mensagens, é mais do que isso.
Simplesmente uma das seções mais importantes
do zine, sempre com notícias quentinhas e informações interessantes
sobre quadrinhos. Algumas: Luigi Rocco comenta o lançamento dos álbuns de “Pita”
e “Piparoti”, personagens de Daniel Azulay (a turma com mais de 40 vai lembrar
da Turma do Lambe-Lambe); Shimamoto fala sobre sua participação na revista “Clássicos
do Faroeste”, com a adaptação do filme “Matar ou Morrer” pela editora Outubro;
José Augusto Pires fala sobre sua edição definitiva de “Terry and the Pirates”;
Alex Sampaio comenta o mercado de quadrinhos europeus atualmente, incluindo os
álbuns mais vendidos; finalmente, entre tantos destaques, Luiz Antonio Sampaio,
verdadeira enciclopédia sobre o assunto comics,
dá mais um show de informações e curiosidades sobre o assunto.
A Coluna “Mantendo Contato” de Worney (WAZ), espaço de palpitologia segundo seu articulista,
traz sempre assuntos relevantes e desta vez os eleitos são: a nova revista
editada pelo ‘papa’ Franco de Rosa, “Operação Jovem Guarda”, de Rubens Cordeiro;
a volta do título de “Dylan Dog”, pela editora gaúcha Lorentz; e o lançamento
de “Contos do Absurdo”, álbum de HQ da revista digital homônima capitaneada por
Daniel Verdi e equipe, pela editora Discovery.
“Edições Independentes”, traz a ficha completa de dezenas de
publicações alternativas, com reprodução de capas. Guia seguro para conhecer o
panorama dos fanzines produzidos no período, que aumentou neste bimestre. Tem
coisas bem interessantes para os curtidores dos fanzines.
Na parte dos quadrinhos e cartuns, destaco as participações
de Eduardo Marcondes Guimarães, a brincadeira divertida de Chagas Lima com as “Lendas
Brasileiras”, e o cartum da contracapa, de Edgard, sempre com textos
inteligentes.
O encarte é mais um presente aos assinantes fiéis da
publicação. Uma belíssima HQ do autor português José Pires, “Asas da Coragem”,
com capa colorida e miolo PB, que conta a história da primeira travessia aérea
do Atlântico Sul. Inicialmente publicada nos números 18 a 20 de revista “Seleções
BD” (2ª Série) entre abril e junho de 2000.
Sempre surpreendente, e mantendo o sucesso do ‘formato’, QI
é sempre uma grande diversão, e é isso que importa. Que perdure por muitos e
muitos anos.
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