quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Micro-entrevista Júlio Shimamoto


Shima, como foi trabalhar e colaborar para três editoras ícones da história da HQB: Vecchi, D'Arte e Press e com os editores Ota, Zalla e Franco?

Foram mais editoras que as que citou. Depois de mais de uma década (1964 – 1975) trabalhando com a estressante publicidade, a sensação do retorno aos quadrinhos foi como entrar num oásis após extenuante caminhada por deserto escaldante. Recomecei pela Ed. Noblet , ilustrando contos de R. F. Lucchetti para a Vampirella, HQ só fiz uma com roteiro de Paulo Hamasaki (chefe de arte da editora), e republiquei o “O Gaúcho” na revista Carabina Slim, que anteriormente tinha sido publicada na Folhinha de S. Paulo. Depois, na Ed. Vecchi, negociei com Ota a republicação da parte de meus clássicos dos anos 58 –64, outra metade foi para a Ed. Bloch, quando fui procurado pelo editor do setor infanto-juvenil Edmundo Rodrigues. Este fez a proposta para eu desenhar a série “A Múmia”, que tinha sido descontinuada pela americana Marvel. Por essa época, Ota decidira reformular Spektro só com HQs nacionais de terror. O sucesso foi grande, além das expectativas, o que o levou a criar mais dois títulos: Pesadelo e Sobrenatural. Abriu-se um amplo espaço para novos e talentosos roteiristas e desenhistas. Em 1977, surge a Ed. Grafipar, em Curitiba, com a competente direção editorial do saudoso Cláudio Seto (ex- Edrel), lançando vários gêneros de HQ erotizados: terror, crime, aventuras, sexo, e ficção científica. Seguindo o exemplo da Vecchi, todo o material era produzido por nós, brasileiros, e não deu outra, ocorreu novo grande sucesso de venda em bancas. Em 1983, Franco de Rosa e Paulo Paiva fundaram a Press Editorial, mas não produzi nada novo para eles, apenas cedi o direito de republicação dos quadrinhos que já tinham sido editadas em Curitiba. Nessa época eu estava desenhando HQs de terror para a revista Calafrio da Ed. D’Arte, do saudoso mestre Rodolfo Zalla. A economia do País ainda cambaleava, devido à crise do petróleo de 1979, e com meus filhos em fase escolar, comecei a viver forte aperto financeiro. Ainda em 1983, decidi aceitar um convite para retornar à publicidade, onde tinha deixado uma boa reputação apesar de detestar essa atividade. Fiquei nela por outros dez longos anos, até acabar demitido. Já estava com 55 anos, uma idade considerada avançada nesse meio. Passei a fazer ilustrações e capas para livros das Ed. Ática, Record, storyboards para agências e produtoras de comerciais, e desenhos para manuais e cartazes de segurança para a companhia Esso de Petróleo. Em 1998, surgiu a Editora Opera Graphica de Carlos Mann e Dario Chaves, oferecendo-me trabalhos de ilustrações de fascículos e criação de álbuns de terror e samurais. Nesse retorno aos quadrinhos eu produzí em parceria com Gonçalo Jr. um álbum para a Ed. Devir. Recentemente, eu e Márcio Júnior lançamos “Cidade de Sangue”, um livro de HQ de mais de 100 páginas, toda desenhada com ferro de soldar e maçarico sobre o papel térmico de fax (técnica totalmente inédita).

Como foi trabalhar com o grande Julio Emilio Braz? Que tal retomar a parceria uma hora, para gáudio dos leitores?

Foi muito gratificante trabalhar com um roteirista muito criativo e experiente como Julio Emílio Braz. Sei que ele às vezes se ressentia comigo por eu costumar intervir algumas vezes em seu texto, mas também fiz isso com outros roteiristas famosos ou não: Pergentino, Hélio Porto, Cotrim, Gedeone, Lucchetti, Ribeiro, Fischer, Carlos Magno, Padrella, Aguiar, como fazem a grande maioria dos cineastas. Quando você põe a mão na massa e começa a esboçar a sequencia de uma cena, tem-se a real noção do ritmo ou timing da narrativa de uma HQ. As vezes, fica evidente que a fala do balum soa redundante, anulando o impacto da ação  de determinado personagem. Retomar a parceria? Atualmente ando pouco motivado com quadrinhos, e vários projetos estão dormindo na minha gaveta. Quem sabe, um dia o meu gás retorne com pressão?

Shima obrigado pela oportunidade de publicar teus trabalhos, já é a segunda parceria Shima-Atomic-Quadrante (Sombras Completo foi a primeira) É um prazer enorme mergulhar na tua obra e espero voltar a parceria em breve, aquele abraço!!!

Eu que lhe agradeço pelo excelente trabalho de resgate e edição da coletânea CONTOS DE HORROR! Nota mil! Obrigadão / SHIMA

Pedidos Contos de Horror: atomiceditora@gmail.com

5 comentários:

  1. Shima,Como sempre, objetivo e bem elucidativo... espero que ele volte com todo o gás!

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  2. Este gênio dos quadrinhos brasileiros, que sempre nos surpreende com novos trabalhos. Viva Mestre Shima, hoje e sempre!

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  3. Grande Shima, privilégio de ter trabalhado com o homem e profissional deste calibre!!!

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  4. Li muito o Shima em Spektro e Pesadelo. Saudades!

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  5. Já me correspondi por carta e faz tempo que trocamos e-mails. Também vejo bastante a arte dele na revista Quadrante Sul.
    Grande artista e ótima pessoa.

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